Por Beatriz Oliveira
A trilogia de livros de Simon Snow, escritos pela autora Rainbow Rowell (atualmente publicada pela Editora Seguinte no Brasil), teve seu primeiro livro lançado em 2015 com Carry On (Sempre em Frente, na nova versão), e trouxe como sua ambientação uma escola de magia na Inglaterra. Na trama, Simon é “o Escolhido”, acompanhado de sua amiga Penelope e de Agatha, uma namorada bonita e esportista, e seu arqui-inimigo, vindo de uma antiga família de magos, Baz.
Porém, Rainbow Rowell se sai muito bem subvertendo o gênero e os personagens, principalmente os que inicialmente são encarados como triângulo amoroso. Simon namora Agatha, que está interessada em Baz, que finge estar interessado nela quando na verdade está perdidamente apaixonado por Simon.
Esses personagens passam por muitos percalços durante o primeiro livro, sendo um deles principalmente a descoberta de um interesse recíproco da parte de Simon para Baz. Simon nunca havia se questionado sobre sua sexualidade, só seguia o que as pessoas achavam que seria o certo para ele, sem questionar, já estando conformado de que se casaria com sua namorada e seguiria a história hétero padrão de casar, ter filhos e envelhecer.
No entanto, quando Simon se descobre retribuindo os sentimentos que antes ele pensava ser de uma obsessão desgostosa contra seu arqui-inimigo, ele se vê numa situação seguinte onde ganha asas de dragão e um rabo, o que pode ser interpretado — e mais tarde, em outros livros, reforçado — como a libertação do seu lado queer. Nesse primeiro momento quando ele as recebe é possível notar que ele as abraça e aceita, abraçando esse seu lado queer também.
Já quando começamos o segundo livro, nota-se que as coisas mudam de perspectiva, Simon está passando por uma má fase e isso se reflete na forma com a qual ele vê não só a sua relação como suas asas também. Ele deseja romper com o namorado e se livrar delas, muito influenciado pelos típicos olhares tortos que recebe quando seu parceiro tenta ser afetuoso com ele ou quando ele tem que esconder esses apêndices porque não seriam aceitos. Porém, ainda no segundo livro, o protagonista tem outros momentos de aceitação e o vemos aproveitando suas asas numa viagem ao mesmo tempo que se abre para Baz, naquele momento não sentindo nenhum tipo de inibição quanto a sua sexualidade ou as asas de dragão.
Quando no terceiro livro eles voltam para casa e para suas realidades vemos dois momentos críticos de Simon, quando ele decide retirar as asas e terminar com o namorado, novamente negando aquelas partes que também o compõem. A sexualidade de Simon nunca é estabelecida com palavras, ele diz que se denomina queer e que ama seu namorado, mas não sabe o que isso o torna. Com o passar das páginas vemos Simon e Baz trabalhando juntos para superar esses desafios para ficarem juntos e, simultaneamente, vemos Simon aprendendo a lidar e abraçar de verdade tanto sua sexualidade quanto suas asas no final, e ser orgulhoso de todas as suas partes.