Fui “monogamizada” de novo e senti ciúmes!

Por Arê Camomila da Silva

Apesar de tentar compor um modelo de relacionamento livre das amarras e posses que a monogamia traz, a não-monogamia não se vê livre de muitas questões e sentimentos desse tipo, como o ciúme. Isso acontece porque é impossível simplesmente apagar uma emoção humana, especialmente quando você cresceu rodeade dela. Contudo, a quebra da estrutura normativa monogâmica faz com que essa experiência seja vivida de uma forma diferente para quem for não-mono.

Fundo transparente com corações partidos desenhados nas cores ciano, lilás, roxo e rosa e sóis desenhados nas cores amarelo e laranja.
Arquivo pessoal

A desconstrução do ciúme é um processo delicado, e as respostas de como conseguir alcançar tal feito não são simples. Muitas pessoas não-monogâmicas podem ter facilidade em deixar esse sentimento de lado, mas para as pessoas com dificuldade o mais simples é aprender a conviver com o ciúme sem deixar que as próprias inseguranças afetem ês parceires/afetos e a si mesme. Enfim, meu constante questionamento é: Como um sentimento que, quando ou se exposto, afeta a autonomia e a liberdade das pessoas pode estar tão perpetuado na sociedade?

Como uma pessoa que se encantou quando se descobriu na não-monogamia, evito completamente relacionamentos com posse, seja me encontrar numa posição de pertencer ou ter posse de alguém. Além do meu ciúme não estar completamente desconstruído, o convívio com a posse e a hierarquização me atinge e incomoda, exclusivamente nos meus relacionamentos com pessoas monogâmicas (amizades e relacionamentos queerplatônicos).

O ciúme surge quando sou colocada num ranking abaixo de outras pessoas, porém, mesmo quando sou colocada acima de qualquer pessoa, me sinto extremamente mal por existir nesse ranking. Apesar de ser uma pessoa não-mono, continuo sendo forçada ao sistema monogâmico toda vez que construo amizades com pessoas monogâmicas. 

Há algum tempo, tive um relacionamento queerplatônico com uma pessoa que colocou nossa relação abaixo das relações românticas dela. Eu não queria ter um romance com essa pessoa, mas também não queria estar em uma posição inferior (e nem superior). Questiono: Por que nossa relação precisava estar abaixo ou acima de suas outras relações? Por que o sentimento queerplatônico está abaixo do romântico de modo geral enquanto é colocado acima de amizades? Concordo que seja natural que existam níveis de intimidade e conforto diferentes com pessoas diferentes, mas se eu e fulane temos o mesmo nível de intimidade e somos igualmente próximes a alguém, então por qual motivo essa hierarquia imposta através da natureza ou do rótulo da relação deve existir?

Apenas descobrindo e aderindo a não-monogamia consegui compreender realmente sobre como me sentir bem em relacionamentos, além das várias questões e pautas da não-monogamia política e a não-monogamia ética abordam e que acho importantíssimas e nas quais me identifico também. Mas e o ciúme? Se houver uma conclusão clara e óbvia para nunca mais sentir, espero chegar lá um dia. Por enquanto, se ele aparecer mesmo nas relações/afetos NM, a resposta simples, como mencionado anteriormente, é “lidar com isso sem deixar que afete as pessoas que eu amo”.

Por último, gostaria de deixar abaixo uma sugestão de leitura sobre o tema, que também serviu de inspiração para alguma parte desse texto:

NUÑEZ, G. E o ciúmes? NM em Foco, 20 nov. 2020. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20220626165022/https://naomonoemfoco.com.br/e-o-ciumes/>. Acesso em: 25 maio. 2024