A bissexualidade de Buck

Por Franktcielli Dorigão

Iniciada em 2018, a série 9-1-1 relata a vida dos bombeiros, policiais e paramédicos da cidade de Los Angeles, com foco no posto de bombeiros 118, acompanhando tanto a vida pessoal quanto a profissional desses personagens. A série, que logo ganhou o público, conta com personagens cativantes e algumas representações LGBTQIA+, como Karen e Hen, casal sáfico que exibe um relacionamento desde do início da série, e Michael, ex marido da Sargento Athena que, depois de um longo casamento e dois filhos, decide pelo divorcio ao finalmente se aceitar como um homem gay. Entre os personagens está Evan Buckley, ou Buck, bombeiro do posto 118 que anteriormente foi retratado como “garanhão hetero”, mas recentemente ganhou grande atenção e aceitação da audiência ao descobrir sua bissexualidade de forma tardia, na sétima temporada, com seus quase 30 anos. 

Imagem da série 9-1-1 em que aparecem os personagens Buck e Tommy. Tommy está à esquerda, virado para a direita, encarando Buck. Ele é um homem cis branco com o cabelo castanho claro curto e a barba rala. É bem musculoso, possui um nariz grande e olhos claros e usa uma blusa preta com decote em V. Buck aparece na direita, virado para a esquerda, encarando Tommy. Ele é um homem cis branco também com o cabelo castanho claro, meio loiro, e a barba rala. Possui uma marca de nascença vermelha ao redor do olho e usa uma camisa cinza de botão.
Buck e Tommy, na sétima temporada

No começo da série, Buck foi apresentado como o típico estereótipo de homem hétero mulherengo, pulando de mulher em mulher durante a primeira temporada — inclusive aquelas que ele socorreu —, que, somado ao trabalho como bombeiro e ao seu porte físico, reforçavam sua estética heterossexual. Agora, a pergunta que fica é: depois de retratá-lo por longas sete temporadas com essa imagem, faz sentido “torná-lo” bi de uma hora pra outra? 

Felizmente, a resposta é sim! A evolução de Buck ao longo da série se faz notável. Ainda na primeira temporada, ele começou sua jornada, tentando se aprimorar, prestando atenção em seus erros do passado e buscando novas formas de encarar a vida. Durante sua trajetória, ele passa por diversos relacionamentos, sempre se perguntando o motivo de não darem certo. Então, quando sua descoberta bi chega, ela é tão natural que você poderia perdê-la se piscasse, apenas é o que é, simples assim. 

Acompanhar a descoberta tardia de Buck, que a casa episódio entende um pouquinho mais sobre si mesmo, é divertido e revigorante e, para muites, reconhecível. É fácil se ver em Buck: o medo, a curiosidade, o questionamento, a aceitação. Além do estágio de auto aprendizado, a descoberta do personagem tão longe na série nos permite aprender que não existe uma idade certa para se entender LGBTQIA+, nem pra se reentender de novo, e de novo, e de novo. A sexualidade humana não segue uma linearidade, uma receita de bolo do que deve ou não ser feito, o que é demonstrado de forma muito clara com Buck e com as demais vivências queer na série. 

Quando Buck compreende sua multissexualidade, traz consigo diversos pontos importantes para a representação LGBTQIA+ na mídia audiovisual. Ele mostra que não há problema em se compreender tardiamente, ou em não performar o que a sociedade espera da sua orientação. Ele demonstra que nenhum fato externo pode definir uma sexualidade: nem o círculo social, nem o passado, nada além da própria pessoa.